Parte do dia a dia da comunidade acadêmica que frequenta o campus Capão do Leão da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), os ambulantes que comercializam doces e salgados foram surpreendidos com a proibição da circulação e venda dos produtos no local. A medida coincidiu com a abertura de uma lanchonete, serviço ausente por mais de três anos e retomado após abertura de processo licitatório no final do ano passado. Indignados e mobilizados, os estudantes estão reivindicando a continuidade dos serviços prestados pelos ambulantes, única alternativa de alimentação nos últimos anos para além do Restaurante Universitário (RU), que serve almoço. Em resposta, a Reitoria afirma estar buscando medidas para resolver o problema e garantir a permanência dos vendedores.

O transtorno, que teve início da segunda-feira passada, quando os ambulantes foram impedidos de entrar no campus, gerou mobilizações nas redes sociais e a abertura de um abaixo-assinado pelos estudantes. Aluno do curso de Enfermagem, Gabriel Pereira conta que a indignação com a medida está ligada a uma série de fatores. Entre os principais, aponta o fato de que uma cantina não é capaz de atender a todo o campus, principalmente em função da distância entre os prédios e os intervalos curtos entre as aulas. "A gente tem dez, 15 minutos entre uma aula e outra. Se deslocar até a lanchonete e enfrentar fila, não dá tempo para todo mundo." Já a estudante de Química de Alimentos, Ester Saldanha, ressalta a questão financeira. "Com os ambulantes a gente tem uma diversidade de produtos e valores que fazem toda a diferença pra quem é aluno. Aí querem nos deixar apenas com uma alternativa e que é dobro ou triplo do preço."

Retorno
Em clima de incerteza, após serem barrados, os vendedores voltaram a circular pelo campus. Eles aguardam um parecer oficial por parte da universidade quanto à situação. "Não queremos que não tenha cantina, tem espaço pra todos. O lugar é enorme e tem muita gente circulando por aqui. Se não puder vender não sei o que fazer, não sou nem aposentado. Esse é o meu único ganha-pão", conta um dos ambulantes que comercializa doces há mais de 12 anos na unidade. Já Noeli Madres, mais conhecida como Tia da Biologia, vende salgados há mais de 30 anos no campus. Quando impedida de entrar no local onde já cultiva vínculos com estudantes, técnicos e professores, distribuiu os alimentos aos que passavam. "Já que não ia poder vender, resolvi dar, pois teria prejuízo igual e ainda o desperdício."

Frente à possibilidade de perder o posto, Noeli não esconde a preocupação com a atividade que é sua única fonte de renda. "Faça chuva ou sol eu estou aqui. Tenho uma relação de confiança já e carinho também, às vezes eles não podem pagar, ou podem pagar menos, tudo a gente conversa. Se tiver que sair não sei o que vou fazer."

O que diz a UFPel
Sem reconhecer a ordem que proibiu a entrada dos ambulantes na última segunda, o reitor Mauro Del Pino afirma que não há nenhuma decisão impedindo a circulação dos vendedores. Del Pino explica que a abertura de uma lanchonete era uma das propostas da sua gestão e que há a intenção de serem abertas mais duas ou três licitações para outros espaços iguais, espalhados pelo campus. Em função da ligação da comunidade com os ambulantes e por considerar a situação social ligada ao problema, o reitor informou que existe uma movimentação para organizar os vendedores e orientá-los a participar destas licitações e assim se adequarem. "É um assunto superdelicado e não queremos gerar mais um problema social. Estamos tratando desta questão com todo cuidado."

O campus Capão do Leão
- Circulam diariamente pelo campus cerca de cinco mil estudantes, professores e técnicos
- O local fica a cerca de 13 quilômetros do centro da cidade
- Abriga cursos como Agronomia, Veterinária, Biologia, Biotecnologia, Zootecnia, Nutrição, Químicas, Matemática, entre outros